domingo, 12 de dezembro de 2010

Barulho

Sempre quando eu acordo abro os olhos e vejo tudo a minha volta. Que ótimo, eu não estou cego. Mas por que não entendo essa pessoa que aparece no espelho diante de mim? Eu olho, analiso, olho de novo, não consigo concluir nada. O tempo foi passando, ele foi correndo, ele sempre corre. E sinto que estou parado sem conseguir alcançar algo, como se eu estivesse de mãos amarradas. Eu estou de mãos amarradas.
Mas eu já nem sei o que eu deveria alcançar, será que é a tal da paz interior? Talvez seja, e eu bem que queria mesmo, porque tem tanto barulho nesta minha cabeça. Nesta daqui de cima ta? A outra a gente não comenta, dizem que ele é sem vergonha.
Como é que todo mundo pode dizer isso? Será que todas as cabeças são sem vergonha? Não sei, também não vou procurar saber.
O que me incomoda é meu interior, não é um incômodo comum. Não é como dor de barriga que incomda e é só a gente sentar no sanitário e pôr pra fora que passa. Não é so tomar remédio. Até porque nunca ouvi falar em remédio para barulho. Minha cabeça não para. São tantas imagens, tantas notícias, tantas informações. E tudo vai aumentando na minha cabeça, acelerando meus pensamentos, desordenando tudo no interior do meu universo.
Eu até acho graça disso porque me lembro do famoso clichê: "O que vale é a beleza interior". Vixe, se for assim, aí é que estou ferrado mesmo, olha a baderna que está aqui dentro de mim. Mas eu acho graça, é porque beleza interior é uma expressão feia, né? Imagina eu chegando pra uma mulher mais feia do que o rascunho do mapa do inferno virado ao avesso, e falando:
- E aí... 'Clotilde' ... você é feia, mas o que importa é a beleza interior. Por isso, eu te digo que... estou apaixonado pelo seu intestino delgado. Sua úlcera é a luz da minha vida. Sua cárie é a estrela que faltava no céu da minha boca!
Todo mundo fala! Todo mundo diz! Todo mundo fala!
Todo mundo diz as coisas e eu não posso dizer. Mas tudo que eu falo, niguém ouve. E o problema é que as pessoas não param de falar também. E quando eu tenho coragem de responder, estas pessoas não são pessoas para as outras pessoas. Dizem que eu estou falando com fantasmas.
Mas eu não sou louco! Louco é quem amarra um ser humano como se fosse uma árvore que precisa se indireitar. Que rasga dinheiro e que machuca as pessoas escorando-se em religião. Que deixa uma doutrina te manipular transformando você em um ser preconceituoso e cheio de mesquinharia. E por fim, só falam clichês! Falas prontas sem saber o que significam!
Fala sério! Mas o povo adora repetir frases bonitas. Mesmo que seja a ponto de ser hipócrita e dizer que tudo é lindo, que quer a paz... mas na primeira oportunidade de atropelar a vizinha que jogou veneno para o seu cachorro...
Eu apenas falo o que as pessoas não têm coragem de falar!!!
O povo diz que não é racista, mas se borra todo quando dá de cara com um negão mal vestido. Acha que vai ser assaltado. Porém, aquele rapaz pode está naquelas condições porque estava trabalhando, enquanto você batia pernas no comércio ou estava de bate papo na praça de alimentação de um shopping. E vem dizer que eu sou louco??
Por que eu me importo tanto com a justiça? Por que eu me importp tanto com os outros? Porque as pessoas estão mais preocupadas com a vida alheia do que com seus próprios afazeres. Eu ajudo todo mundo, mas não consigo organizar o que eu mais deveria. Minha cabeça!
Já sofri por amar alguém que fez pouco caso de mim. Já tentei amar em vão alguém que me amava de verdade. Já tentei ser útil ou agradável e entenderam errado. Se eu fico sério, dizem que eu sou antipático. Se eu dou um sorriso, falam que estou dando mole para alguém.
Viro a página do livro onde vivo e dou de cara com alguém especial que já passou pela minha vida lá no início do texto. O coração dispara misturando, raiva, amor, saudade e desprezo, e o caos toma conta te todas as artérias que estão em meu corpo fazendo com que meu sistema nervoso apresente falhas. Eu não aguento mais!
Eu peço para não aparecerem mais na minha frente, porque todas as vezes que aparecem eu me arrepio de medo. Eu vejo todo mundo. Mas as outras pessoas não veem. Não estou transtornado, as outras pessoas é que me deixam assim!
Será que as pessoas não podem ter um pouco de compaixão e parar de acharem que todo mundo têm que ser igual? Por que todos têm mania de ficar formatando tudo? Eu não nasci igual aos outros, então não tenho que morrer igual também!!!
A sociedade não sabe viver com o indiferente!
Esqueço que já fui criança ou adolescente e vejo tudo querendo aprender, e querendo colo, beijo... um abraço... não tenho nada disso. Eu só me vejo sozinho... sentindo como se eu estivesse a beira de um palco com as pessoas me olhando, espectando a insanidade que toma conta da minha mente. Insanidade que são os outros que transbordam em mim. Ficam me dando injeções para eu ficar calmo. Mas eu não tenho que ficar calmo, eu só quero ser gente e ser respeitado!
E ninguém se propõe ajudar, ficam inertes, apreciando... ao invés de se encararem como peças de um jogo de xadrez, onde a qualquer momento, um de nós já não vai mais estar nele... no jogo.
Quando a gente pensa assim, resolve ser o rei do taboleiro. Porque ele é considerado o melhor. Mas a gente nem sempre quer ser o melhor, não quer ser o maior. Porém, o mundo já cobra isso o tempo todo, cobra que sejamos sempre os melhores. Onde na verdade, eu só queria ser um peão, um alguém que conseguiria ser feliz com pouco. E o capitalismo faz desse pouco um nada.
Te obriga a matar aos poucos através de vozes silenciosas que você só ouve se tiver um sentido apurado. Ain como eu queria mudar o mundo, mas nem sei por onde começar e ninguém quer mudar junto comigo. Queria apenas que entendessem que eu não matei. Eu não matei ninguém, foram eles. Foram os outros. Foram aqueles que se dizem que são sociedade. Que são elite e te obriga a ser verme. O verme que eles deram pra você quando tiraram a sua oportunidade de melhorar de vida! Apenas um verme!!!
As pessoas têm o mesmo defeito do macaco, enfiam o rabo entre as pernas para apontar o defeito no rabo dos outros. É um tal de acusar fulano ou ciclano. E nisso? Onde está a ética? Sabe qual é um dos princípios da ética? Isso eu sei, eu sei... É o respeito. É o respeito que as pessoas esqueceram de ter umas pelas outras. É aquela postura de não querer enganar aos outros nem a si mesmo.
Me desamarra, me desamarra, me desamarra!!! Me desamarra, por favor!!!
As coisas estão andando de um jeito que... eu só consigo ver o mundo de cabeça para baixo. Eu vou perdendo os sentidos, vou perdendo a esperança, me frustando ao escutar das pessoas que eu sou um fracassado, onde eu não precisava escutar, porque isso eu já estou sentindo.
Há momentos em que eu queria procurar a morte, mas não sei se ela vai gostar de mim. Tenho vontade de perder o juízo e fazer besteira, mas vou acabar aumentando meus problemas e não estou conseguindo resolver nem os que eu já tenho. O que eu faço? O que eu faço? Alguém... me diz...
Tentando fugir eu procuro pensar que isso é um pesadelo, que se eu tiver forças eu vou acordar. Mas daí eu acordo e novamente a minha cabeça começa a fazer barulho. Eu quero chegar aos trinta anos logo, porque dizem que é nessa idade que aprendemos a filtrar as informações. Eu quero filtrar, eu preciso filtrar. Porque todo mundo diz as coisas, mas esquecem de explicar para que essas coisas servem... em que elas são úteis.
Útil... inútil... ligo a televisão e vejo catrera no meio de uma cidade. Mudo de canal, um ônibus está em chamas como símbolo de uma impunidade que se acomodou no mundo em que eu vivo. Um mundo que no futuro pertencerá ao seu filho, sem que ele mereça tamanha tragédia. Um mundo cheia de pessoas que só ocupam seu tempo querendo saber da intimidade alheia em um programa sem cultura, que não nos ensina nada... absolutamente nada!!!
Abro o jornal e vejo um cara dizendo que o arroz e feijão está mais barato, como se estes dois alimentos fossem os único que meu filho precisasse para sobreviver e marter-se nutrido. Como se uma criança não gostasse de pão, biscoito, sorvete ou chocolate, meu companheiro.
E por que deste caos? Porque as pessoas veem as coisas em um teatro, e muitas vezes esquecem de refletir depois para fazer algo que melhore o mundo onde vivem.
Eu pergunto: Você realmente ouve? Você realmente fala? Você realmente vê?

(Rodrigo Hallvys)